Reproduzimos abaixo a página originalmente publicada no site "Óbvio!" (http://www.obvio.ind.br). Este link está inválido, e o site aparentemente passou para http://www.anisiocampos.com/his.html porém os links para as matérias encontram-se também com links inválidos.

Afim de preservar este excelente relato de Sidney Cardoso, reproduzimos a página abaixo.

Os links para outras matérias estão desativados, pois apontam para links inválidos.

 

 

Lorena-Porsche GT: a feliz mutação de um Karmann-Ghia/Porsche DACON

Por Sidney Cardoso, Ricardo Cunha, Mário Estivalét e Joaquim Lopes - revisão Ricardo Machado

Todos resultados de competições mostrados nesta matéria tiveram como fonte o pesquisador Ricardo Cunha

 

 

No Rio de Janeiro, RJ, dois irmãos vinham ganhando atenção da imprensa, Sérgio e Sidney Cardoso. Sérgio, o mais velho, sagrara-se Campeão Carioca de Automobilismo, na categoria estreantes, em 1966.

 

O Piloto Sidney Cardoso veio contar a história do primeiro Lorena que apareceu no Brasil, por tê-la vivenciado  por completo, já que surgiu na equipe em que corria e indica o ótimo site do nosso parceiro Mário Estivalét - http://www.lorenagt.com - para quem quiser saber mais sobre outros Lorenas no Brasil. 

 

Mário Estivalét mandou bem no site, com informações de quem possui ou possuiu Lorena GT, muitas informações, resultados e descrições de todas competições que os Lorenas participaram e dados curiosos como a origem do nome, reportagens e várias  fotos.

 

- Conta a história aí Sidney, com todos os detalhes da "Equipe Colégio Arte e Instrução" !

 

Lorena-Porsche GT 2.000 cc equipe Colégio Arte e Instrução no Itanhangá Golf Clube, revista Quatro Rodas dezembro 68

 

 

Logomarca da Equipe, aplicado no vidro dianteiro do Lorena

 

 

Quando a equipe Dacon, comandada por Paulo Goulart, retirou -se das pistas após marcar uma bela página da história do automobilismo nacional, com vitórias inesquecíveis dos Karmann-Ghias/Porsche, vendeu-os para outros pilotos ( clique na frase azul, para conhecer esta história).

 

Emerson e Wilson Fittipaldi - ex-pilotos da Dacon - haviam comprado o de número 77 junto com dois motores Porsche 2.000cc, fizeram algumas corridas com ele, agora, pintado na cor coral que os irmãos Fittipaldi usavam em seus carros e modificado seu número para 7, que era o preferido de Emerson.

 

Emerson e Wilson Fittipaldi vencedores das Seis Horas de Interlagos – 1967

 

Além deles, José Carlos Pace também comprou um dos Karmann-Ghia/Porsche Dacon de 2.000cc e os irmãos Aílton e João Varanda de Petrópolis,  adquiriram dois deles, Aílton um de 2.000cc e João Varanda um de 1.600cc.

Mais tarde,   Ernayde Cardoso,  pai de Sérgio Cardoso, Piloto do Rio de Janeiro, adquiriu o Karmann-Guia/Porsche Dacon número 7 de Emerson e Wilsinho para Sérgio. Sidney disse que falará um pouco mais de seu irmão,  devido ter sido o Lorena dele o primeiro montado no Brasil e também ser o primeiro a correr nas pistas brasileiras.

 Nota do site www.lorenagt.com - Quadro incluído nesta página pelo site

Emerson e Wilson Fittipaldi, na Av. Niemayer, Rio de Janeiro, levando o Fitti-Ve para treinar em Jacarépagua, e na frente no reboque o Karmann-Guia Porsche, sendo levado para Sérgio Cardoso, no Colégio Arte e Instrução

 

 

  Chegada do Karmann-Guia para Sérgio Cardoso, nas instalações do Colégio Arte e Instrução      Fotos: acervo Sidney Cardoso

Sérgio Cardoso sagrara-se Campeão Carioca de Automobilismo na categoria estreantes em 1966, correndo com uma Simca Emisul, quando esta estourou o motor e seu pai adquiriu, então, uma Alfa Giulia TI, que pertencia ao Piero Gancia. 

Largada do Piloto Sérgio Cardoso com o Simca Emisul no Rio de Janeiro - 25 setembro de 1966

 

Sérgio Cardoso atravessando na curva do S com Alfa Giulia que venceu o Campeonato

Carioca de estreantes 1966 - Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Sérgio recebeu da imprensa especializada em automobilismo do RJ,  o título de  “Piloto Revelação de 1966"

 

Nas MIL  MILHAS de 1967, do Acidente de um Karman-Ghia/Porsche, surge o Lorena Porsche GT - a sorte ou o azar depende do que vem depois...

 

Após dois anos de interrupção as lendárias Mil Milhas voltaram a realizar-se em São Paulo em 1967, e com um atrativo a mais, pilotos portugueses do "Team Palma" viriam participar dela com carros nunca vistos em nosso país, um Porsche 911S, um Lótus Cortina que haviam adquirido de Jim Clark e dois Lotus Europa. Sérgio e seu irmão Sidney  ficaram entusiasmados para participar desta corrida.

 

A atração que as "Mil Milhas" despertava era tanta que Sidney Cardoso - que estava na Vice-liderança do Campeonato Carioca de Estreantes de 1967, correndo com a Alfa Giulia TI que ficara para ele - decidiu abandonar o campeonato para participar dela, visto que pelo regulamento os pontos acumulados nas corridas anteriores já lhe permitiam tirar a carteira de piloto profissional e participar, mas na condição de abandonar o campeonato de estreantes, já que correndo como piloto profissional não poderia mais voltar a esta categoria.

 

E assim fez, abandonando o Campeonato Carioca,  onde chegou ao final dele como Vice-Campeão.

 

Balé das Alfas na categoria estreantes de 1967: Sidney Cardoso com Giulia; Aloísio Renato Kreischer

com GTV e Renato Peixoto "Peixotinho" de GTA.

Vale destacar a assistência desta foto, da esquerda para a direita reconhecemos o piloto Luis Cardassi, de cronômetro na mão; o Construtor Herculano Ferreirinha; o irmão do Carlos Alberto Scorzelli, de sobretudo; o Piloto Sergio Flecha Moniz, de óculos escuros; Aloísio Lemos, o mais calvo, sócio de Albino Brentar, da "Lemos & Brentar" representante Puma e depois Dacon do Rio; Piloto Hélio Mazza, de braços cruzados; de chapéu um rapaz que fazia teatro e era figurinha "carimbada" de todas corridas - cujo nome Sidney se esqueceu - e de macacão o Piloto Maurício Chulam , que iria participar da prova seguinte destinada a pilotos.

Ficou estabelecido que, nas Mil Milhas, Sidney correria com a Alfa, em parceria com Wilson Marques Ferreira, o "Mug", Piloto que vinha se destacando no Campeonato Carioca, correndo com um Malzoni GT e Sérgio correria com o Karmann-Ghia/Porsche, caso seu motor ficasse pronto, faltando escolher seu co-piloto.

Wilson Marques Ferreira "MUG" e Sidney Cardoso junto à Alfa que correram as Mil Milha.

Aqui a minutos antes de saírem para participar da "Corrida Luso-brasileira", Prova Almirante Tamandaré,

no Autódromo do Rio de Janeiro, em 1967.

 

Acontece que por falta de conhecimentos mecânicos à altura dos sofisticados avanços que os Karmann-Ghias/Porsche traziam para o Rio de Janeiro - fato bem compreensível para a época - o motor de Sérgio, mais uma vez, encontrava-se quebrado à espera de peças importadas, que tinham uma operação sempre complicada para chegar nas equipes.

 

Aílton Varanda estava com motor bom, porém havia batido em outra corrida anterior e ficara com sua carroceria danificada. Eram 21:00 horas e ante-véspera das Mil Milhas, quando Roberto, ex-Norman Casari, agora supervisor da equipe Colégio Arte e Instrução, teve um "estalo" e falou para Sérgio: - E se ligarmos para o Aílton e propusermos a ele uma "simbiose", vocês correriam em parceria, usando o motor dele e sua carroceria ?

 

Todos ficaram perplexos: - Mas por que não pensamos nisto antes ?

 

Imediatamente, ligaram para Aílton que, concordou de pronto e avisou que estaria saindo de Petrópolis naquela hora, levando seu mecânico "Passarinho" junto com ele.

 

Ao chegarem, "Passarinho" já saiu correndo para baixo do carro para instalar o motor de Varanda na carroceria de Sérgio e à meia-noite, estavam no Autódromo do Rio de Janeiro para testes. Acordaram o Nonato, Zelador  do Autódromo e explicaram que precisariam testar o carro com este outro motor e os faróis na pista, já que as Mil Milhas começariam naquele mesmo horário e eles não teriam mais uma noite para testes. Depois de muitas negativas, dizendo que não havia ambulância, bombeiros, etc, Nonato acabou cedendo e abriu os portões para a equipe: o carro foi testado e andou bem. Tudo perfeito para o dia seguinte...

 

Nas Mil Milhas, em Interlagos - São Paulo,  Emerson Fittipaldi deu o maior show, liderando a prova com seu Fitti-Porsche, sendo o único piloto a fazer a curva do mergulho sem tirar o pé do acelerador, mantendo quinze segundos de diferença sobre o segundo colocado, logo nas primeiras voltas e continuou liderando até ter que parar por causa de um princípio de incêndio.

 

Alta madrugada, ainda bem escuro, Aílton Varanda, pilotando o Karman-Ghia/Porsche 2000 cc, encontrava-se em quarto lugar. A Alfa da Equipe Colégio Arte e Instrução, com Wilson Marques, estava em décimo lugar, após várias paradas para trocar bateria já que o alternador havia pifado. De repente, na curva do Lago, o acelerador do K-G/Porsche prendeu no fundo, o Aílton abaixou-se para soltá-lo com a mão, o carro desgovernou-se e saiu dando várias capotadas.

 

Aílton saiu ileso graças ao “Santo Antônio”, mas o carro ficou destruído... na foto Joaquim, motorista

da Equipe Colégio Arte e Instrução tomando conta do que sobrou.

 

Ainda no box, Aílton vira-se para o Sérgio e fala:- Não se preocupe com sua carroceria. Tenho um segredo guardado a sete chaves e acho que é hora de contá-lo. Você terá uma agradável surpresa!

 

Sérgio: - Que isso, Aílton? Essas coisas fazem parte das corridas. Fique tranqüilo.

 

Aílton: - Não, Sérgio. Sempre fui uma pessoa correta, não vou me sentir bem senão te fizer essa proposta!

 

Aílton continuou: - É o seguinte, o empresário João Silva, presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama, está importando dos Estados Unidos, uma carroceria de fibra de vidro, que é baseado no desenho do Ford GT 40 e pretende montá-la em chassis de Karman-Ghia, com motor Volkswagen 1.600cc e vendê-la no mercado.

 

O João me ofereceu-me uma de graça para instalar meus equipamentos Porsche e poder correr fazendo divulgação do carro.

 

Sérgio tentou demovê-lo desta oferta, mas não conseguiu.

 

Poucos dias após a corrida, Aílton levou Sérgio e sua equipe uma rua transversal à Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, onde era a sede da fábrica de lanchas de fibra de vidro Estructofibra, onde iria ser fabricado o primeiro Lorena GT do Brasil. 

 

O primeiro Lorena GT na Estructofibra - notem a bela lancha lá atrás...

 

A carroceria de fibra estava pronta e ainda crua, sem pintura, em fase de montagem, mas a equipe ficou maravilhada com a sua beleza e aerodinâmica. Alguns dias depois ficou pronta e  entregue ao Sérgio, que junto com o mecânico "Passarinho", cedido por Aílton, em apenas um mês, conseguiram fazer a transposição da suspensão, motor, freios, instrumentos do painel, etc, retirados do Karmann-Ghia/Porsche e devidamente instalados no Lorena GT.

 

Como os "espaços" eram diferente, algumas adaptações se impuseram e a máquina de furar foi muito usada. Algumas peças tiveram que ser compradas, como faróis, lanternas, limpador do pára-brisas. Outras fabricadas especialmente para ele, como o vidro dianteiro, feito pela empresa Blindex que, com muita boa vontade, providenciou tudo rapidamente. Também foram adaptados por Sérgio e "Passarinho" em acrílico os vidros laterais e traseiro para pesar menos.

 

O Lorena-Porsche GT recebendo sua primeira pintura na casa de Sérgio e Sidney

 

 

O Lorena-Porsche já pintado, mas como observou Mário Estivalét, em sua segunda pintura,

visto que a tomada de ar frontal para o radiador de óleo já estava maior e num nível mais alto.

 

O belo design do carro com sua boa aerodinâmica e a combinação de cor usada pela equipe com as cores do seu Colégio, além da adaptação no bico, para encaixar o radiador de óleo - os Karmann-Ghias/Porsches usavam cárter seco - tornaram-se um diferencial com vantagens plásticas em relação ao modelo original.

 

Sidney lembra-se que, dias antes, Luiz Antonio Greco, chefe da equipe Ford-Willys do Brasil e os pilotos Wilson e Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Luís Pereira Bueno, muitos outros pilotos, mecânicos, chefes de equipes e construtores, estiveram em sua casa para conhecer o novo protótipo. E quase todos não acreditavam que o carro ficaria pronto à tempo para a corrida na manhã do dia seguinte !

 

Sérgio só foi dormir às quatro horas da madrugada, para acordar às sete e que o mecânico "Passarinho" virou a noite direto sem dormir. E, logicamente contrariando todas as previsões, o carro ficou pronto às 9h da manhã e a corrida era às 10h. Portanto, não houve nem tempo para experimentá-lo. A equipe não queria pô-lo na pista nessas condições, mas Sérgio, corajosamente, fez valer sua vontade de correr.

 

O Lorena-Porsche GT chegando ao Autódromo do Rio de Janeiro para participar da Primeira Etapa do Campeonato Carioca de  Automobilismo de 1968, em sua primeira corrida. Foto: Jorge da Silva Ramos, O Globo

 

Ao fundo, Sérgio Cardoso sendo cumprimentado e  atrás dele, seu irmão Sidney que também participou desta

corrida com um Karmann-Ghia/Porsche 1.600cc, emprestado por João Varanda, "Jiquica”, pois sua Alfa estava em

São Paulo, passando por uma revisão na Jolly Gancia pós correr as Mil Milhas. Foto: Sergio Flecha Moniz.

 

O público presente nos boxes correu para assistir aquela novidade.Todos eram unânimes em exaltar a beleza de suas linhas aerodinâmicas...o carrinho era mesmo muito legal !

 

Norman Casari não fez diferente: também foi olhar o carro de perto e conversa com o pai de Sérgio, Ernayde

Cardoso, Chefe da Equipe Colégio Arte e Instrução, com o Lorena ao fundo.

 

O Lorena-Porsche GT 2.000cc alinha para a largada de sua primeira corrida no Brasil, tendo Sérgio Cardoso como piloto,

Primera Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo, 24 de março de 1968. Mais atrás, à direita, Sidney com Karmann-Ghia Porsche 1.600cc, número 79, emprestado por João Varanda.

 

Na largada, como sempre, os Karmann-Ghias/Porsche ficavam para trás e isto vem desde que a equipe Dacon fez uma inteligente adaptação dos componentes do Porsche 904 para os seus Karmann-Ghias de fibra de vidro.

 

A fim de que os carros tivessem um melhor rendimento e como a carcaça da caixa do Volkswagen, que suportava apenas quatro marchas, as da caixa Porsche foram colocadas assim: a primeira marcha foi substituída pela segunda, a segunda pela terceira, a terceira pela quarta e a quarta pela quinta. Para comparar, era o mesmo que sair com um fusca em terceira marcha, tinha que ir soltando a embreagem com bastante sensibilidade para o motor não morrer e isso fazia o carro trepidar bastante. Porém, após a velocidade de 50 Km/h, o motor voltava a adquirir seu torque normal e desembestava pela pista.

 

A primeira marcha ia até 108 Km/h e a perda era somente na arrancada, porém, recuperava-se depois com as marchas mais adequadas aos circuitos,  como se fosse um carro de 5 marchas. No Autódromo do Rio, a primeira era usada somente na largada e na curva do S.

 

O piloto Mário Olivetti, com sua Alfa GTA largou na frente, mas não segurou o tranco !

 

Flagrante do momento exato em que Sérgio Cardoso ultrapassa Mário Olivetti, já na terceira volta.

Foto revista Auto Esporte - maio 68

 

 

Curva seguinte, Lorena-Porsche GT na frente. Foto: Sérgio Flecha Moniz

 

Flagrante da terceira volta, quase no final do retão. Foto: Jorge da Silva Ramos, o Globo

 

O Piloto Mário Olivetti no pódio desta corrida em primeiro lugar com Alfa GTA da Scuderia Angelini - foto revista Auto Esporte, maio 68.

Bem, dois problemas aconteceram, o que costuma ser normal numa estréia de carro, sobretudo sem possibilidade de testá-lo antes num treino.

Primeiro, o tanque construído para o Lorena ficou numa posição inadequada, de modo que quando Sérgio freava o cursor do pedal não ia até o fundo,  batendo no tanque e com isso, ele só tinha uns 40% de freio.

Segundo, Sérgio - assim como Wilsinho - tinham a mania de aliviar pêso do carro. Aliás, Wilsinho quando viu o carro na casa dos Cardoso, uma das coisas primeiras coisas que falou foi que a fibra utilizada era muito grossa!

Ele estava com a razão, pois esse Lorena havia sido concebido para andar na rua. Já os Karmann-Ghias/Porsche usavam uma "casquinha" de fibra de vidro, pois foram planejados para corridas.

Mais tarde, a equipe seguiu o conselho de Wilson Fittipaldi, trocando a tampa da frente e a da traseira que cobria o motor por outras bem mais finas e, mais tarde ainda, comeram na lixa todas as outras partes fixas até ficarem mais leves.

Mas voltando ao Sérgio, ele, com a sua mania de aliviar o carro de peso, retirou todas as carenagens abaixo do motor e as do Porsche são parecidíssimas com as do Volkswagen - aquela lataria de cor preta que veda o fundo do motor - e o que aconteceu? Com isso, o ar quente que saia da descarga era sugado de volta pela ventoinha, que deveria insuflar ar frio para as camisas dos cilindros. O motor super-aqueceu e Sérgio, que vinha liderando a corrida viu-se obrigado a parar na sétima volta, para não derreter o motor.

 

 

 

                  

Sérgio Cardoso, primeiro piloto a dirigir o Lorena-Porsche GT, no pódio após vencer

uma corrida com Alfa Giulia - Foto: Valdir Braga, “Estrela”

 

 

Infelizmente, Sérgio só fez esta corrida com o Lorena, pois na corrida seguinte, no circuito de rua de Petrópolis, sofreu um acidente fatal no treino, com a Alfa Giulia TI. (clique na frase azul para conhecer a história)

 

Ele havia decidido correr com a Alfa, porque que o Lorena, por ser muito baixo, não poderia ser utilizado numa corrida de rua com piso de paralelepípedos. Wilson Fittipaldi que levara o Fitti-Porsche para correr lá, acabou desistindo pelo mesmo motivo.

 

Sidney, que iria correr em dupla com Sérgio ficou algum tempo sem correr, mais uma vez abandonando o campeonato carioca.

 

Quando voltou, passou a pilotar o Lorena-Porsche GT e dessa passagem, Sidney prefere falar de alegria, de vida, mas sabe que se não mencionasse este fato, muitos dos que estão lendo agora, iriam ficar se perguntando:

 

- E o Sérgio, não correu mais com o Lorena, por quê?

 

Vamos então aproveitar para falar mais um pouco do piloto Sérgio Cardoso:

 

 

Era 25 de Setembro de 1966 e a segunda corrida no Autódromo do Rio de Janeiro, na 1a. Etapa do Campeonato

Carioca de Automobilismo. Da esquerda para direita, Amadeu Girão, Diretor da Prova com a Miss Brasil 1966, Ana

Cristina Ridzi e Sérgio Cardoso, que iria fazer sua primeira corrida de estreantes com uma Simca Emisul.

 

Obs. A corrida de inauguração oficial deste Autódromo foi em 10 de Julho de 1966, vencida por Carol Figueiredo

com um protótipo Willys, sendo utilizado apenas o anel externo, visto que o miolo ainda não ficara pronto àquela época.

 

Uma sequência interessante de fotos do Sérgio Cardoso em 21 de julho de 1968. Sérgio considerava

 o "13" seu número de sorte e com ele venceu a única corrida de Kombis realizada até hoje no Brasil

e considerava a vitória sua maior glória... 

 

 

 

  ...Sérgio no pódium do Autódromo do Rio de Janeiro, após vencer mais uma corrida

em 1966 e abaixo, seu pai Ernayde Cardoso ...

 

... E entre Armando Braga e “Dr. Jivago” em 9 de Outubro de 1966, quando conquistou o primeiro

dos dezessete troféus que iria colecionar em sua curta carreira.

 

E nesse mesmo instante, tudo de novo acontecia no Brasil com a Jovem Guarda....

 

Roberto Carlos e Wanderléa de BMW 2002 na Lagoa, Rio 1968 - foto Sebastião Archanjo - olha o edifício Gemini lá atrás...

 

Painel do Lorena-Porsche GT com a assinatura do Sérgio Cardoso

 

A Estructofibra fabricou apenas duas carrocerias do Lorena e continuou fazendo lanchas,

passando os direitos para outra empresa de São Paulo. Tempos depois, o Lorena GT - como havia sido

previsto - surgiu no mercado em versão passeio, aí uma de suas várias publicidades.

 


 

A primeira corrida do Lorena-Porsche GT

Data: 24 de março de 1968  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova: Primeira Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 13 (branca)

Piloto: Sérgio Cardoso

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: Não terminou - parou na 7a volta por superaquecimento.

O Lorena da Equipe Colégio Arte e Instrução participou de corridas com três cores diferentes: a primeira, branca, vermelha e azul, predominando a branca,  depois, a equipe o pintou nas cores da Equipe Matra Francesa, as mesmas cores com predominância da azul.

Finalmente, na cor vermelha, depois que o Ford GT 40 chegou com esta cor, onde a equipe ficou uniformizada, como poderemos ver a seguir, juntamente com os detalhes das corridas.

A logomarca da Equipe Colégio Arte e Instrução no capô do Ford GT-40

A predominância da cor branca:

 

 

Ilustração Maurício Morais http://mauriciomorais.blogspot.com/

Predominância da cor azul:

Sidney Cardoso com mecânico Antônio (ex-Dacon) mexendo no motor Porsche Fuhrmann de 2.000cc.

 

   

Uma jóia da pura engenharia alemã Porsche: o motor Fuhrmann, lançado em 02 de abril de 1953 em

Züffenhausen - usados nos modelos  550 Spyder, 904 e na 356 Carrera - tinha 2.000 cc, refrigerado a ar com duplo

comando de válvulas no cabeçote, quatro velas de ignição, dois distribuidores, um par de carburadores

duplos Solex PII 40mm. que gerava 200 HP´s ....

 

Na cor vermelha, para ficar igual ao novo Ford GT-40 da Equipe Colégio Arte e Instrução:

Ford GT 40 na EXPOSITEC-70, Exposição Internacional de Ciência e Tecnologia. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

José Milosky bandeirando Sidney Cardoso com Lorena Porsche GT, na tirada de tempo da preliminar

do Torneio BUA de Fórmula Ford 01-02-70,  Foto "Waldir Braga”, Estrela".

 


 

 A segunda corrida do Lorena-Porsche GT:

 Data: 15 de junho de1969  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova: Primeira Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo de 1969

Automóvel: Lorena Porsche  -  N°: 20 (branca)

Piloto: Sidney Cardoso

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: Não terminou por problemas no trambulador - volta mais rápida

Nesta corrida logo na segunda volta - quase no final do retão - o Lorena apresentou o mesmo defeito que apresentara o Fitti-Porsche de Emerson Fittipaldi, nas Três Horas de Velocidade do RJ - Prova Jim Clark: o trambulador da alavanca de câmbio se desgastou, ficando a alavanca solta em ponto morto,  não permitindo a troca de marchas.

A solução que Antônio, ex-mecânico da Dacon e Antônio Ferreirinha  encontraram  nesta corrida para minorar o problema, foi parecida com que Darci, mecânico de Emerson, encontrou na prova Jim Clark,  já que nenhum dos mecânicos tinha um trambulador reserva: fixar a alavanca de câmbio na terceira marcha.

 

Ferreirinha fixou na primeira para Sidney poder sair do acostamento, solicitaram a ele que desse umas duas voltas para dar tempo deles voltarem aos boxes e ali iriam fixar na terceira, mas devido ao tempo perdido em que ficou parado e, ao contrário da outra corrida, sendo esta de curta duração e não havendo mais tempo para pontuar, resolveram deixar o carro no box de vez para poupar o motor.

 

Sidney Cardoso e seu pai Ernayde antes da largada. Reparem os dutos maiores na parte de trás,

saindo das orelhas e indo para o motor, colocados para refrigerar mais, devido aquecimento da primeira corrida.

Foto Waldir Braga, “Estrela”.

 

Nos treinos de classificação na véspera, o Lorena havia feito o melhor tempo 1m 40s 9.   Fonte: Cronometragem  Oficial  da Prova. Neste ano o regulamento havia mudado e o campeão do ano passado Mário Olivetti obteve o direito de alinhar no grid na posição de honra com sua Alfa GTA número 65, Sidney alinhou ao seu  lado,  completando  a  primeira fila  Luiz A. Lima com  o  Protótipo VW 1600/CBA, o famoso “Ovo de Codorna”  - foto abaixo - com o tempo de 1m 48s 1.

 

Largando, “Ovo de Codorna” de Luiz Alberto Lima, Lorena-Porsche GT de Sidney Cardoso, Alfa GTA de Mário

Olivetti, Alfazoni de José Moraes Neto e Fusca 63 de Antonio Rodrigues. Foto Waldir Braga, “Estrela”.

 

Mario Olivetti saiu na frente com o Lorena em sua cola.  Após  completarem  a  segunda volta,  no meio da reta o Lorena passou a Alfa, mas nesse instante houve a quebra do acionamento do câmbio, saltando a marcha para ponto morto. Acontece  que naquela época não existia comunicação do Piloto com os boxes, de maneira  que os mecânicos  correram para o Lorena sem saber o que tinha havido.  

 

Descoberta a  causa - desgaste do trambulador -  mas  devido  estarem  sem recursos no meio da pista, prenderam com arame a alavanca  em  primeira  para  que  o  carro  pudesse ir para o box -  lembrem  que  a  primeira  era longuíssima, ia a 108 km/h, e Sidney teve que dar mais duas voltas para, neste tempo os mecânicos poderem regressar ao box e  pensarem  numa solução, pois não havia outro de reserva...

 

Lorena saindo curva do S. foto Waldir Braga, “Estrela”. Foto e recorte da revista O Cruzeiro -

julho 1969 em reportagem de Fernando Calmon.

 

 

 

 

 

 

Fonte: Revista Auto Esporte agosto 69

 

 

Um fato interessante é que apesar do Lorena-Porsche GT só ter feito duas voltas em condições normais - portanto pesado devido ao tanque cheio - ainda assim conseguiu fazer o melhor tempo!

 

 

 

Clique para ver o vídeo da corrida:

 

O Lorena-Porsche GT na Primeira Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo - Pilotos em 15 junho de 1969

 

 

 

 

 

 

Uma boa torcida feminina não podia faltar: Sandra, Eloá, Elisa com Luciano, Nonato (atrás de óculos, 

administrador do Autódromo que teve uma curva com seu nome, curva "Nonato"), Joaquim e

Sidney depois da quebra do trambulador. Foto Waldir Braga, "Estrela"

 


 

Terceira corrida do Lorena-Porsche GT:

Data: 27 de julho de1969  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova: Segunda Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 20  Azul

Piloto: Sidney Cardoso

Equipe:Colégio Arte e Instrução

Chegada: 2° lugar

 

 

O Lorena-Porsche GT chegando na curva do S...

 

Já na curva do S...

 

Esq. Para direita, Sidney Cardoso, Márcio de Paoli e Mário Olivetti. Foto Waldir Braga, “Estrela”.

 Fonte: revista Auto Esporte - Setembro 1969

Link para vídeo

 

 Campeonato Carioca de Automobilismo - segunda etapa - 27 Julho 1969

 


 

Quarta corrida do Lorena-Porsche GT

Data:  31 de agosto de 1969  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Autódromo Internacional do Rio de Janeiro

Prova: Prova Duque de Caxias, extra campeonato.

Automóvel: Lorena Porsche  -  N°: 20 (azul)

Piloto: Sidney Cardoso

Chegada:... 2°  lugar

 

Lola T-70 MK III de Márcio e Marcelo de Paoli, ilustração de Ibsen Ottoni,

site http://public.fotki.com/ibsenop/

 

A primeira vitória da Lola Chevrolet, com o Lorena-Porsche GT em segundo lugar. Sidney corrige que no filme que temos o link, se enganou quando disse que a Lola tinha 4.500cc, quando o correto é 4.900cc.

 

Lorena-Porsche GT com Sidney Cardoso, o Mark I com Carlos Erymá. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Esquerda para direita: Sidney Cardoso, Marcelo De Paoli e José Moraes Neto. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Revista Auto Esporte outubro 69.

 

 

Link para filme:

 Corrida Prova Duque de Caxias - Rio de Janeiro em 31 Agosto 1969

 


 

Quinta corrida do Lorena-Porsche GT:

 Data:  21 de setembro de1969  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova: Terceira Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 20 (azul)

Piloto: Sidney Cardoso

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: Não largou - quebrou na volta de apresentação

No dia da corrida, no aquecimento da manhã, Sidney tinha  feito o melhor tempo de classificação com tanque cheio, porque a Lola dos irmãos De Paoli havia apresentado problemas. Ao dar uma volta antes da largada o motor do Lorena-Porsche quebrou. Mais tarde Antônio detectou que o defeito era na bomba de óleo e ao fresar uma parte da mesma, o motor nunca mais bateu biela...

 Da esquerda para a direita: Roberto, Joaquim, Sidney, Ricardo Duque Estrada, Luiz, Celina e Paulo “Bigode”,

toda a turma desapontada em ver que o Lorena-Porsche havia feito melhor tempo de manhã, mas quebrou

o motor. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

 

 Da esquerda para a direita: Antônio, Roberto, Joaquim e mais atrás o Piloto Ricardo Duque Estrada

e Sidney Cardoso, todos desolados com a quebra do motor... Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

  

Fonte: Revista Auto Esporte - Novembro 1969

 


 

 Sexta corrida do Lorena-Porsche GT

Data:  25 de novembro de1969  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova:Quarta Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 22 (vermelha)

Piloto: Carlos Alberto Scorzelli

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: 3° lugar

 

O Lorena-Porsche GT com Carlos Alberto Scorzelli na curva Primeira do Miolo.

Foto da revista Auto Esporte de Janeiro 1969, melhorada por Sergio Eduardo Enoch.

 

 O Piloto Carlos Alberto Scorzelli  foi pioneiro em algumas coisas: usar capacete fechado - justamente nesta corrida -

trouxe o Fórmula Ford Merlyn e o Ford GT-40. E para quem curte música, foi ele quem trouxe Frank Sinatra ao Brasil...

Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

 

O Lorena-Porsche GT com Carlos Alberto Scorzelli entrando no S. foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Os dois carros da equipe chegando juntos: Ford GT-40 com Sidney Cardoso e o Lorena-Porsche GT

com Carlos Alberto Scorzelli. Foto Waldir Braga, "Estrela"

 

Os dois carros da equipe chegando juntos novamente para o pódio, Ford GT-40 com Sidney Cardoso

e Lorena-Porsche GT com Carlos Alberto Scorzelli. Foto Waldir Braga, "Estrela"

 

 

Da esquerda para a direita: Carlos Alberto Scorzelli, Sidney Cardoso e Amauri Mesquita. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Revista Auto Esporte - Janeiro 1970

Link do filme desta corrida:

Primeira corrida do Ford GT-40 no Rio de Janeiro - 1969

 

Link do filme da chegada do Ford GT-40:

Ford GT40 chegada ao Porto do Rio de Janeiro - 1969

 

Link do filme do primeiro Fórmula Ford no Brasil:

Primeiros treinos de Fórmula Ford - Rio de Janeiro em 1969

 


Sétima Corrida do Lorena-Porsche GT

Data: 13 de dezembro de1969  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova: III 1000 Quilômetros da Guanabara - final do campeonato Brasileiro de Automobilismo

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 22  (vermelha)

Piloto: José Maria Ferreira (Giu) e Heitor Peixoto de Castro

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: 1° lugar

 

Lorena com Heitor Peixoto de Castro ou José Maria Ferreira "Giu", na curva Norte. Foto Waldir Braga, "Estrela"

 

Competência é isso aí: A Equipe Colégio Arte e Instrução inovou e foi a primeira a usar mangueiras para abastecer

ao invés de galões. Ao fundo ônibus de externas da TV Globo, que estava fazendo filmagens para

a novela  Véu de Noiva. Foto Waldir Braga, "Estrela"

 

O Lorena-Porsche GT de Heitor Peixoto de Castro e José Maria Ferreira, "Giu", sendo abastecido

pelo inovador sistema da Equipe Colégio Arte e Instrução, durante 1.000 Kilometros do Rio, em 1969.

Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Lorena-Porsche GT sendo reabastecido. Da esqueda para a direita: Paulo borracheiro trocando pneu,

Roberto, Scorzelli, Sidney e Ernayde Cardoso

 

O abastecimento com troca de Pilotos, com Heitor Peixoto de Castro entrando no Lorena. 

Há uma particularidade nesta foto, além de aparecer  o fotógrafo Waldir Braga, "Estrela", de chapéu e

camisa quadriculada, que evitava ser fotografado, autor da maioria das fotos do acervo de Sidney,

aparece também o Piloto Chico Landi - de camisa branca - atrás do Lorena, pois estava presente assistindo

a corrida e passou grande parte do tempo junto ao box da equipe.

 

O Lorena-Porsche GT com Heitor Peixoto de Castro ou José Maria Ferreira, "Giu”, na liderança.

 Roberto Antonio Dias Machado, supervisor da equipe,  sinalizando. Foto Waldir Braga, "Estrela"

 

José Maria Ferreira, "Giu", e Heitor Peixoto de Castro no pódio - Foto: Waldir Braga, “Estrela”

 e abaixo, outra foto com legendas de quem estava lá: Amadeu Girão, Diretor da Prova, o repórter André Queiroz

do Programa "Carro é Notícia", da TV RIO - Canal 13, Rony Sharp, irmão do Bob e Alcides Diniz.

 

 

Revista Auto Esporte, janeiro 1970.

 

Nesta corrida, os favoritos José Carlos Pace com o Alfa P33, Sidney Cardoso com Ford GT 40 e Emerson Fittipaldi com Fitti-Fusca com dois motores acoplados tiveram problemas e não completaram a prova.

 

   

José Carlos Pace e a Alfa-Romeo P-33 conversando com Enayde

Cardoso antes da largada no Autódromo do Rio de Janeiro

 

O sensacional Fusca Bi-Motor com 3.200 cc de Emerson Fittipaldi. Conheça este interessantíssimo projeto clicando aquí !

 

Emerson Fittipaldi e o cantor Ronnie Von, nas corridas !

 

A Equipe Colégio Arte e Instrução festejando a vitória. Da esquerda para a direita: Roberto, Sidney, Heitor,

Scorzelli, “Giu”, Ernayde e o representante do Governador Chagas Freitas. Foto “Estrela”

 


 

Oitava corrida do Lorena-Porsche GT

 Prova: Quinta Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 22 (vermelha)

Piloto: Sidney Cardoso

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: 5° lugar – melhor volta da prova, soltou tanque de gasolina parou na 22a. volta.

 Esta corrida foi após os 1.000 Kilômetros da Guanabara, em 14 de dezembro de 1969.

Como o carro havia se comportado muito bem na prova longa anterior, os mecânicos Antonio e Sidney julgaram que seria melhor apenas lubrificá-lo, trocar óleo, velas e pneus e não mexer em mais nada.

O Lorena-Porsche estava liderando, quando de repente a gasolina começou a vazar e a inundar a cabine, que ficou literalmente como uma banheira, só que de gasolina de helicóptero de 90 octanas, de cor roxa e que os motores Porsche exigiam. Uma bomba ambulante, pois toda a gasolina derramada estava perto dos contatos da bateria, que ficava no assoalho do carro. Na volta 22 de uma corrida de 30, o motor ficou sem combustível - que ficou dentro do carro - e o carro parou!

Os mecânicos foram ver o que havia acontecido, descobriram que durante a prova dos 1.000 Kilômetros, três dos quatro fixadores do tanque haviam se soltado e estava preso apenas por um. Chegaram a esta conclusão devido a oxidação em três parafusos e o quarto por não mais existir, indicava que havia se rompido nesta corrida. Resultado final: quinto colocado. 

Lorena na entrada do miolo Autódromo do Rio, na Quinta Etapa do Campeonato Carioca de Automobilismo 1969.

Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Descrição da revista Auto Esporte - fevereiro 1970

 

 

 

 ,

 

Nesta descrição da revista há um pequeno equívoco na segunda parte, quando diz que Sidney entra para o Box definitivamente, ele se lembra que não parou no Box, pois a gasolina acabou no miolo, aliás, como pode ser verificado, a própria revista quando dá o resultado final, o aponta em quinto lugar, com 22 voltas. Acontecimento que vindo da revista Auto Esporte é completamente desculpável, pois, segundo Sidney, é a mais imparcial e completa sobre automobilismo.

 

Recorte jornal Gazeta de notícias

 


 

 

NONA CORRIDA DO LORENA-PORSCHE GT

Data:  01 de fevereiro de1970  -  Local: Rio de Janeiro / Guanabara

Prova: Prova preliminar do Primeiro Torneio Internacional BUA de Fórmula Ford

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 22 (vermelha)

Piloto: Sidney Cardoso

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: 1° lugar

 

 

Jornal Correio da Manhã. O Lorena-Porsche já começou com sorte antes da corrida... Além de

estar em boa companhia, parece que a modelo deixou bons fluidos nele...

 

Sidney atribui estes tempos maravilhosos, o melhor que o Lorena-Porsche já fez na pista do Rio, devido à pista estar bem "emborrachada", pois teve treinos e  corridas de Fórmula Ford, Estreantes, motos, etc.

Ele conta que foi uma das  corridas com mais público que já participou, parecia até os 1000 Kms e as Mil Milhas. Era a primeira vez que os Fórmulas Ford vinham correr aqui, aliado à presença de Emerson que estava correndo no exterior.

O jornal O Globo calculou em cerca de 50 mil pessoas presentes.

 

 

 

Luis Pereira Bueno venceu  a primeira bateria de Fórmula Ford e Emerson a segunda, após grandes pegas com Ricardo Achcar, que estava na ponta e enguiçou a uma volta do final, ficando, porém, com o recorde da pista em Fórmula Ford, 1m 29.0 segundos.

 

Revista Auto Esporte, março de 1970

O Lorena-Porsche GT com Sidney, Karmann-Ghia levíssimo com “Giu”, Geraldes Special com Fernando Lima e Patinho Feio com José Moraes. Fotos Waldir Braga,” Estrela”.

Reparem a diferença de público desta foto para a de baixo, nesta ainda não tinha havido o “estouro da boiada”, com o público invadindo a pista de corrida..

Sidney Cardoso sobre-esterçando com o Lorena-Porsche e Fernando Lima com o Geraldes Special, na curva do S

 

 

Amauri Mesquita de Mini-Cooper e Sidney Cardoso de Lorena-Porsche

 

 

Agora é que invadiram tudo mesmo....

 

Pega de José Moraes Neto com "Patinho Feio" e Sidney Cardoso com o Lorena-Porsche. Este pega

acabou na curva seguinte quando José Moraes derrapou, acertou o Lorena de lado na traseira, o Patinho Feio

saiu da pista e atropelou uma criança, felizmente conduzida ao hospital e saindo no mesmo dia, com lesões leves !

 

Jornal O Globo

 

   

Sidney Cardoso no pódio, após vencê-la - Foto: Valdir Braga, “Estrela” e

a revista Auto Esporte março 1970.  Pequena correção de Adolpho Troccoli.

 


 

Décima corrida do Lorena-Porsche GT

 Data:  18 e 19 de abril de 1970  -  Local: Brasília / Distrito Federal

Prova: 1000 Km de Brasília

Campeonato Brasileiro

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 20 (vermelha - dois pares de faróis redondos)

Piloto: Sidney Cardoso e Heitor Peixoto de Castro

Equipe: Colégio Arte e Instrução

Chegada: O resultado final da prova foi duvidoso. Acredita-se que o Lorena-Porsche tenha chegado em 4° lugar, segundo cronometragem da própria equipe e a de Luiz Antonio Greco. Para se ter idéia de como foi a cronometragem desta prova deixamos abaixo pequeno resumo do que foi publicado pelas revistas Auto Esporte, Quatro Rodas e Jornal O Globo.

   

   

parte de reportagem jornal O Globo e parte reportagem revista Auto Esporte junho 1970

UM TRIBUTO A "BIRD" CLEMENTE:

Antes de ir para Brasília, corrida que começaria à noite, a equipe trocou os faróis do Lorena colocando dois em cada lado, com Heitor e Sidney fazendo alguns treinos no Autódromo do Rio.

Sidney revela a seqüência completa de derrapagem controlada na curva do S, como forma de prestar sua homenagem a Bird Clemente, eminente Professor desta modalidade que ele e seu irmão sempre foram fãs!

 

 

Sequência de Sidney Cardoso atravessando no S do Autódromo do Rio de Janeiro. Foto Waldir Braga, “Estrela"

UM TRIBUTO A WALDIR BRAGA, “ESTRELA”:

Sidney presta aqui sua homenagem póstuma e de gratidão ao fotógrafo Waldir Braga, conhecido pelos companheiros de imprensa por “Estrela”, devido ter a boa estrela de estar nos lugares certos dos acontecimentos.

 Waldir Braga foi fotógrafo do jornal carioca Última Hora, depois Chefe do Departamento Fotográfico da revista O Cruzeiro, mais tarde ocupou a mesma posição na revista Manchete.

A amizade dos dois era muito grande, que esta história do Lorena-Porsche ilustrada com tantas fotos só foi possível devido “Estrela” ter-lhe doado a maior parte de seu acervo, além de ter feito as filmagens.

Sidney revela que era curioso como “Estrela” fotografava muito, mas relutava em ser fotografado e que ele só conseguiu fazer isso por quatro vezes: a primeira no Autódromo do Rio, a segunda - já mostrada - nos 1.000 Kilometros do Rio, a terceira à caminho de Brasília e a quarta lá em Brasília.

Waldir Braga, “Estrela” a caminho de Brasília com a jaqueta Porsche de Sidney. Abril, 1970.

Sidney brincou e disse que desta vez, não teve nenhuma modelo para deixar bons fluidos no Lorena, de maneira que ele já saiu do Rio com problemas... O motor estava rateando e o mecânico Antônio que o conhecia bem, por motivo familiar, foi a única vez que não pôde acompanhar a equipe.

Em Brasília o Lorena foi para a oficina Camber de Alex Dias Ribeiro, amigo de Sidney, mas lá não conseguiram resolver o problema. Alex, com toda boa vontade do mundo, indicou e os acompanhou a uma outra oficina, uma autorizada VW, mas aconteceu o mesmo.

Nos dias de hoje pode parecer fácil, temos vários carros com 16 válvulas, quatro comandos, etc, mas estamos falando de 37 anos atrás, o Porsche foi o primeiro a trazer estas inovações para cá e os mecânicos não sabiam nem no que mexer. A exceção era os que trabalharam na Dacon, pois haviam feito curso sobre estes motores e tinham suporte da fábrica.

O jeito foi tirar tempo mesmo com o carro rateando. Ernayde Cardoso chefe da equipe, percebendo que o Lorena-Porsche em suas condições normais teria chances de brigar pelo primeiro lugar e, naquela situação, sem seu mecânico-chefe, que poderia resolver o problema, ligou para o eletricista Antônio, da oficina Elétrica do Alemão, que trabalhava pra eles nas corridas do Rio, e pediu que pegasse um avião e viesse para Brasília imediatamente!

Começada a corrida, Antonio ainda não havia chegado e o Lorena largou rateando, embaixo de forte chuva. Com uma hora de corrida, no meio da curva Torre de TV, surge um curto circuito no painel, sai forte labareda e princípio de incêndio...

Sidney para o carro e usa o extintor, acompanhado pelos bombeiros que estavam perto. Aparece um repórter com rádio transmissor e Sidney pede a ele que avise ao Box sua localização. Em minutos chega Albino, “Neném”, também mecânico de sua equipe, isola o fio e pega uma carona no Lorena de volta para o Box.

Quando os dois chegam, Antonio eletricista já estava lá e na hora matou a charada do Lorena estar rateando: - era a bobina de ignição!!!! Trocou-a por outra e o motor Porsche 2.000 cc agradecido, voltou a mostrar porque é um dos orgulhos do povo alemão... 

O jornal O Globo deu uma página inteira criticando a desorganização e Sidney transcreve "ipsis litteris", apenas algumas notas desta matéria:

 

"Às 8h da manhã, ninguém sabe a classificação, pois a cronometragem está longe dos boxes e não fornece os boletins".

 

"A Direção da prova decidira que a corrida terminaria impreterivelmente às 12 horas, mesmo sem completar os 1 000 quilômetros. Protestos gerais de nada adiantam”. “Nos bastidores começava a tomar corpo a idéia de anular a prova como válida pelo Campeonato Brasileiro, em virtude dos inumeráveis erros acontecidos”.

 

O Lorena-Porsche, realmente, apresentou um  problema na bobina no início da corrida, fazendo que o motor rateasse, não passando dos 4000 giros, quando o normal seria ele alcançar 6.800 giros.

 

Após uma hora de corrida, conseguiu-se uma nova bobina, o problema foi resolvido e seus pilotos conseguiram descontar o tempo perdido. A equipe ficou perplexa, quando, apareceu o resultado da cronometragem oficial.

 

Sidney nem se lembra mais em que lugar eles o colocaram, porque segundo a cronometragem de sua Equipe e da Equipe Ford-Willys de Luiz Antonio Greco,(que sempre primou pela organização) e estava no box ao lado,  o Lorena GT havia chegado em quarto lugar. 

 

Lorena-Porsche à noite, no circuito de rua de Brasília. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 

Jornal O Globo

Heitor assumiu o volante, mas algumas voltas depois, entra rápido no Box, pois o limpador de pára-brisa havia quebrado e com chuva a visão estava péssima, resolveram, então,  tirá-lo, juntamente com o vidro traseiro, pois seria mais rápido que perder tempo procurando o defeito.

A partir daí até o final da corrida o Lorena teve comportamento perfeito descontando bastante a primeira hora da corrida em que fez rateando.

 

Lorena-Porsche com Heitor Peixoto de Castro em Brasília já de dia sem os vidros

 

Revista Auto Esporte junho de 1970

Obvio !: - Sidney, lemos no site, de nosso também colaborador, Mário Estivalét, sua entrevista no O Globo, onde você, com razão, baixou o pau na organização desta corrida, mas, conversando contigo, vejo que seus olhos brilham quando fala dela. Além deste problema da cronometragem, você teria algumas boas recordações para compartilhar conosco? Você sabe que gostamos de fatos “das internas”.

Sidney: - Pois tenho várias, pra não ficar longo citarei apenas três:

1 – Logo no início, ainda com o motor rateando, fiquei um bom tempo num pega com quatro carros que andavam praticamente iguais, sendo um deles o de Maurício Chulam, a  cada  volta  a

 liderança deste pelotão se alternava, estava chovendo bastante, a visibilidade era mínima, sobretudo porque o pára-brisa do Lorena embaçava bastante e quando estava atrás a quantidade de lama e óleo que era jogada pelos da frente com aqueles pneus largos era uma enormidade, havia momentos que nossa visão era nula, só dava pra ver quando acendia a luz de freio do carro da frente perto de uma curva, quem vinha atrás freava também, houve horas que quase chegamos a nos tocar, enfim foram emoções sensacionais.

2 – Houve uma hora durante o dia, já com o motor normal e sem pára-brisa, que a danada de uma goteira que escorria do painel com tanto lugar pra cair cismou de escolher logo meu pé direito, o do acelerador, com isso quando esticava o pé acelerando, aparecia uma maldita câimbra, me abaixava um pouco, com a mão esquerda puxava o dedão pra cima, dava uma melhorada momentânea, mas logo vinha ela de novo. Com isso estava perdendo algum tempo, pra não prejudicar a equipe decidi entrar no box antes da hora. Os mecânicos conseguiram fazer um gatilho desviando-a pra outro lugar e como faltava pouco para entregar a condução a Heitor, fizemos isso logo a fim de não perder tempo com outra parada minutos depois.

3 – Deixei por último a que mais me trouxe gratificação, todos da minha equipe sabiam que por gostar de derrapagens controladas, sempre que chovia me dava bem, a curva onde ficavam as antenas das TVs, chamada curva da TV, era bem estreita pra direita e acabava pra esquerda entrando numa larguíssima avenida em descida, aquela que você tem a visão da esplanada dos ministérios - Sidney já tinha se esquecido do nome dessa "vista", mas de pronto o amigo e pesquisador Joaquim Lopes informou que era a Esplanada dos Ministérios, sentido Palácio da Alvorada.

Bem com isso, quando estava saindo dela e vendo toda aquela largura adiante, ia deixando o Lorena desgarrar com as rodas dianteiras voltadas para o lado contrário à curva, corrigindo ao final dela tirando um fino do meio fio à direita, em suma, ia deslizando atravessado por uns três a quatro metros.

De início os assistentes se assustaram, sempre que passava lá corriam pra trás, depois foram tomando confiança ficando parados ali. De dentro do carro percebia eles chamando outros que estavam mais na reta pra irem lá assistir aquilo. Bem, no final formou-se um aglomerado de pessoas ali e todas vezes que passava faziam questão de aplaudir com as mãos pra cima para que pudesse ver que estavam gostando.

Ah, teve um lance muito legal também nesta "Esplanada dos Ministérios" - valeu Joaquim !!! -, houve uma hora que  Ciro Cayres com o BMW “Esquife” e eu com o Lorena entramos juntos na curva da TV, saímos e entramos juntos novamente nesta avenida, interessante, os dois carros estavam andando exatamente a mesma coisa. Não sei se você sabe, nesta avenida tem uma lombada no meio onde os carros saem do chão com as quatro rodas, igual ao Circuito de Nürburgring, na Alemanha.

Como o chão estava bem molhado tínhamos que segurar o volante bem reto para não rodar na aterrissagem. Não é que subimos juntos, descemos juntos, fomos passando as marchas um emparelhado ao outro. A poucos metros antes da freada da próxima curva, uma bem larga, chamada Bacião da Rodoviária, fomos retardando a freada, pois sabíamos que quem freasse por último conseguiria passar à frente. Disfarçadamente, de rabo de olho, ficava observando pra ver a hora que ele iria frear pra fazer o mesmo imediatamente, nisto percebi que ele estava fazendo a mesma coisa.

Em frações de segundos pensei o Lorena é mais leve ele vai ser obrigado a frear primeiro, a curva é bem larga, portanto há espaço pra desgarrar ao sair do limite. Trocamos vários olhares, a curva chegando, até que ele decidiu frear primeiro, fiz o mesmo milionésimos de segundos a seguir, sai derrapando nas quatro rodas e consegui ficar à frente daí por diante. Em toda minha vida de piloto estes foram os segundos que mais custaram a passar, pareceram minutos, ficaram marcados pra sempre em minha memória.

Ah, te disse que iria falar apenas de três boas recordações, mas não posso deixar de falar de mais uma. Foi o seguinte: Como o GT 40 finalmente havia ficado pronto depois de uma longa novela que nenhuma retífica acertava com seu balanceamento, não vem ao caso aqui narrar, é muito longa, era nosso desejo levá-lo pra fazer esta corrida. Mais tarde quando soubemos que seria realizada num circuito de rua e não o conhecíamos, não sabíamos como era seu piso, etc, ficamos receosos que depois de tanto tempo de espera talvez pudesse haver algum dano nele e teríamos que voltar ao ponto inicial.

Neste meio tempo antes de decidirmos não levá-lo, um jornal publicou a manchete abaixo:

 

Um rapaz de Brasília, de nome Edmundo, viu esta foto acima quando foi publicada no jornal.

Logo de manhã me procurou no box  e me presenteou com esse desenho, que ficou parecidíssimo e que guardo-o até hoje com muito carinho.

 

 


Décima primeira corrida do Lorena-Porsche GT

 Data:  10 de janeiro de1971  -  Local: Interlagos São Paulo / São Paulo

Prova: Grande Prêmio Cidade de São Paulo - Preliminar Torneio Brasileiro de Fórmula-3, 1a bateria

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 2 (vermelha)

Piloto: Heitor Peixoto de Castro

Chegada: 11° lugar

 

Nesta corrida e em todas próximas a Equipe Colégio Arte e Instrução se apresentou com dois carros, o Lorena Porsche com Heitor Peixoto de Castro e o Ford GT 40 com Sidney Cardoso.

 

Lorena Porsche no. 22, Ford GT 40 no. 20. Foto Waldir Braga, “Estrela”

 Esta corrida foi aguardada com boas expectativas por vários motivos:

- Foi a primeira vez que se realizou uma corrida de Fórmula-3 no Brasil, a prova principal.

 

- O público poderia finalmente rever de perto seus ídolos brasileiros que já estavam correndo com sucesso na Europa, como Wilson Fittipaldi Jr., José Carlos Pace, Luis Pereira Bueno e outros companheiros como José Maria Ferreira, “Giu”, e Ronaldo Rossi, todos disputando em Interlagos com pilotos estrangeiros, sendo que David Walker era aguardado como a maior promessa daquele ano, com várias vitórias no ano anterior.

 

- Antonio Carlos Scavonne que também fizera algumas corridas aqui, inclusive participou de algumas que a equipe Colégio Arte e Instrução também correu, foi quem a organizou em parceria com a TV Globo, Scavonne revelou-se excelente empresário, conseguindo criar uma estrutura bem profissional, além de oferecer os melhores prêmios até aquela data.  Sidney se empolga ao lembrar do show de Wilsinho ao vencer as duas baterias, tendo Moco como segundo na primeira e Luisinho na segunda, mas vamos a preliminar que o assunto aqui é o Lorena-Porsche.

 

Lembra-nos que estas provas das preliminares teriam a duração máxima de 30 minutos, daí iremos perceber que em algumas delas há oito, nove, outras dez voltas.

 

Por estar correndo e também por ter tido problema com seu carro, não pode descrever a do Lorena com detalhes, lembra-se que largaram com chuva, como ele gostava, e que só soube do Lorena, quando chegou ao boxe ao final daquela bateria. 

 

Ali se inteirou que, logo no início da primeira volta, um outro carro havia derrapado acertando um dos pára-lamas dele que ficou roçando num dos pneus traseiros. Heitor entrou pro boxe, como a corrida era curta não daria para recuperar o tempo perdido, os mecânicos optaram para consertá-lo com calma para a segunda bateria.

 

Largada primeira bateria. Esq.p dir. Royalle–Ford 22 Lian Duarte, atrás Lorena 2 Heitor P. de Castro, Bino Mark II 47 Tite Catapani e Ford GT 40 Sidney Cardoso. Foto da "Enciclopédia Abril", número 14.

 

 

 

 Jornal O Globo, 11-01-71. Mais referências revista Auto Esporte fevereiro 71 e Quatro Rodas mesmo mês e ano.  

 


 

Décima segunda corrida do Lorena-Porsche GT

 

 Prova: Grande Prêmio Cidade de São Paulo, Preliminar Torneio Brasileiro de Fórmula-3, 2a bateria

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 2 (vermelha)

Piloto: Heitor Peixoto de Castro

Chegada:... 9° lugar

 

 

Largada da segunda bateria, da esquerda para a direita o 21, Royalle-Ford Sérgio Mattos,

20 GT 40 Sidney Cardoso, 22 Royalle de Lian Duarte, 65 Luís Carlos Moraes, Porsche 910, 58

Lola T 70 MK III B Antonio Carlos Avallone e o Lorena largando em último devido ter chegado

nesta posição na bateria anterior. Foto: Paulo Scali.

 

 

 

Jornal O Globo 11-01-1971 e referências revista Auto Esporte e Quatro Rodas, fevereiro 1971

 

Revista Auto Esporte - fevereiro de 1971

 


 

Décima terceira e última corrida do Lorena-Porsche GT

Data:  25 de janeiro de 971  -  Local: São Paulo / São Paulo

Prova: Grande Prêmio Cidade de São Paulo, Preliminar Torneio Brasileiro de Fórmula-3, Interlagos

Automóvel: Lorena Porsche 2000  -  N°: 2 (vermelha)

Piloto: Heitor Peixoto de Castro

Chegada: 6° lugar

 

 

Tirada de tempo: José Renato Catapani de Bino Mark II, Luís Cardassi de Lorena-Porsche.

Mais atrás de roupa escura mão na cintura, Antônio mecânico e de chapéu branco Antonio eletricista.

Foto Rogério P. da Luz do site http://www.imagensdaluz.com/index.html .

Nas vésperas desta corrida Heitor P. de Castro havia sofrido um acidente caindo de um cavalo, estava com uma fissura no pulso, mão enfaixada, com dificuldades de guiar. A equipe convidou, então, Luís Cardassi que havia sido Campeão Carioca Fórmula Vê em 1969, e havia manifestado desejo de correr nesta equipe.

Acontece que Cardassi só guiara monoposto e não se adaptou ao Lorena, com isso Heitor que havia ido com eles pra São Paulo acabou correndo mesmo com a fissura no pulso.

Sidney se lembra que nos treinos desta corrida aconteceu um fato interessante. Ele vinha com o GT-40 embalado, chegando no S os bandeirinhas estavam com a bandeira verde, ou seja, pista livre, deu uma rodada de 360 graus, depois foi aos boxe pra ver se tinha acontecido alguma coisa com a suspensão e, surpresa... Quem estava lá? Heitor.

Assim que Sidney entrou, Heitor fala:- Já sei, rodou no S!!!!

Sidney:- Você viu?

Heitor:- Não, mas você acha que estou aqui por quê? Bicho, você sabe que não somos de rodar, também rodei, o S estava óleo puro, parecia manteiga. Assim que cheguei pedi ao Joaquim pra descer o barranco e ir te avisar, ele correu pra lá, mas não deu tempo, quando chegou você já tinha passado e ele te viu rodando. E apontando pra outro box, mostra o carro que havia estourado o cárter de óleo naquela curva.

Felizmente não aconteceu nenhum dano aos carros.

Tanto a revista Auto Esporte como a Quatro Rodas não trouxeram reportagem sobre esta corrida, a Quatro Rodas publicou apenas o resultado. Pedimos a Sidney que nos falasse sobre ela, mas como já se passaram muitos anos ele se lembrava de poucas coisas como este acontecimento acima, lembrava também que o GT-40 estava rateando bastante e com receio de se equivocar, preferiu ir à Biblioteca Nacional para pesquisar.

Lá encontrou em microfilmagem do jornal O Globo de 26 de Janeiro de 1971, o fato de Cardassi estar treinando no lugar de Heitor pelo motivo já narrado e também de seu carro estar rateando. Como não se lembrava mais da causa do carro estar rateando, ligou para Antonio Ferreirinha que também estava lá com eles, já que perdeu o contato com Antônio, ex- mecânico Dacon. Mas Ferreirinha, então, se lembrou que o problema foi na fiação das velas, como não tinha reserva o jeito foi correr assim mesmo com o carro rateando...

Vamos ao resultado desta última corrida que, desta vez, diferente das demais, foi disputada em apenas uma bateria.

Revista Quatro Rodas fevereiro 1971. Pequena correção Heitor Peixoto de Castro

 


Por sorte, Sidney em sua procura na Biblioteca Nacional encontrou também nesta mesma data, na página 8 do Caderno do Automóvel, uma página inteira falando sobre nossos carros de corrida, onde entre outros aparece o Lorena Porsche que estamos tratando aqui.

 

Caderno do Automóvel O globo 26-01-71 - de cima para baixo, da esquerda para direita,

Lola-Chevrolet T 70 MK III, Casari A-II, Lorena Porsche, Ford GT 40, Bino Mark II, Mark I e Protótipo Amato-Ford.

Como estamos contando a história deste Lorena, escaneamos e deixamos aqui suas características:

Sidney faz três pequenas correções no texto, onde diz motor Porsche 198cc seria 2000cc;

 169 HP seria 200;  7000 rpm seria  6800 rpm.

 Bem, como Sidney mesmo diz, as diferenças são poucas, o importante é a relação peso/potência. Para uma pessoa leiga no assunto podemos deixar uma comparação: Imagine 200 cavalos juntos puxando um caminhão pesado com carga, imaginou? Agora imagine estes mesmos 200 cavalos puxando um carro de cerca de 500 kilos....

Interessante, ao final dessas histórias, percebemos que este Lorena fez sua primeira corrida com o número 13, e, por coincidência, 13 foi a quantidade de corridas que ele realizou....

 

Para encerrar esta matéria escolhemos esta foto do Lorena no dia de sua estréia. A foto é simples, está

com pouca qualidade, mas seu número bem em destaque é significativo neste contexto...

 

 

Outros Lorenas GT também apareceram em corridas, usando motor Volkswagen.

 

Lorenas VW correndo: em Brasília - com imensas entradas de ar -; em Belo Horizonte, em volta

do Estádio  Mineirão, em São Paulo com Expedito Marazzi em sua escola de Pilotagem, 1970.

 

Um Lorena "tunado" do piloto Édo Lemos apareceu nos 1.000 Kilometros de Interlagos em 1970 e é fotografado

por "Sir" Karl Ludvigsen. E olha ele atrás do ônibus da Equipe Brahma/Norman Casari !!!!

 

O Piloto Édo Lemos correndo de Lorena em Interlagos - 1970

 


O LORENA DOURADO

Esta é uma das mais deliciosas histórias sobre como ganhar uma competição automobilística. Encontrei-a depois de um encontro com o jornalista Gabriel Marazzi, a quem eu não via fazia um bom tempo. Contei-lhe do site GPtotal e ele disse que também estava organizando um site, alimentado com fotos e histórias suas e do seu pai, Expedito Marazzi. “Entre no http://www.marazzi.com.br/  e você já vai encontrar algumas coisas boas”, disse-me Gabriel.

Expedito Marazzi, para quem não sabe, foi um dos mais importantes e competentes jornalistas automobilísticos que o Brasil já teve. Dirigiu as redações de revistas como Quatro Rodas e Auto Esporte, abriu o primeiro curso de pilotagem do Brasil, foi piloto de competição.

Trabalhei com ele durante cerca de um mês, em dezembro de 1986, como ajudante em sua escola de pilotagem. Ouvi boas histórias e absorvi um pouco do imenso conhecimento que aquele veterano tinha sobre automóveis e corridas. Depois disso, passei os anos seguintes trabalhando com outras coisas, que nada tinham a ver com corridas. Só voltei a Interlagos, já trabalhando como jornalista, no dia 3 de dezembro de 1988 (lembro-me até hoje: era um sábado, véspera da última etapa do Campeonato Brasileiro de Stock Car). Esperava encontrá-lo em breve, mas não tive tempo para isso: naquele mesmo mês, o velho Marazzi morreu quando testava um caminhão.

Publicar esta história e as fotos que estão no http://www.marazzi.com.br/, com a devida autorização do Gabriel, é minha pequena homenagem a Expedito Marazzi e um (espero) incentivo ao Gabriel para que continue dividindo suas histórias com o público. (Luiz Alberto Pandini)

FESTIVAL DE RECORDES

Existem fatos na nossa vida que ficam marcados para sempre. A história do Lorena dourado e do Festival de Recordes é um deles. Isso foi em 1970. O quintal da minha casa era grande, mas nem sempre parecia assim, já que meu pai gostava de espalhar carros nele. Mais ou menos como eu faço hoje.

Parecia um estacionamento público, pois cada dia havia um carro diferente por lá. Até que um dia ele chega com um dos quatro fusquinhas da frota do Curso Marazzi de Pilotagem, todos amarelos com uma faixa azul cortando ao meio.

Até aí, nenhuma novidade. Mas as coisas começaram a mudar quando ele chegou com um mecânico e algumas ferramentas. Em poucos minutos o fusquinha havia se transformado em uma carroceria jogada no chão e um chassi pelado. Logo depois, chega uma carcaça de Lorena – um dos esportivos fora-de-série da época, como o Puma – crua, sem pintura nem fundo, que foi colocada no chassi do Fusca. Rapidamente o "protótipo" ficou pronto e saiu funcionando. Mas para quê?

Fui saber logo à noite, quando fui, junto com meu pai, para a sede da escola, ainda na Rua Iperoig, no bairro das Perdizes, ajudar a pintar o carrão. O Lorena foi pintado com várias latas de tinta Colorgin spray, que naquele tempo só existia nas cores dourado e prateado (servia para pequenos trabalhos manuais). O carro se tornou, então, dourado.

 

Lembro que o protótipo consumiu muitas latas de tinta e muito tempo na pintura, pois, como não tinha fundo para pintura, não era fácil cobrir aquela superfície irregular da fibra de vidro crua.

 

E o resultado também não ficou tão bom. Na madrugada, no entanto, o carro ficou pronto.

 

Além da pintura, foi providenciado um santo-antônio "prá inglês ver", de cano de água, e, dos dois lugares, um pedaço de fibra fechou o espaço excedente para que o carro se tornasse um monoposto.

 

 

Esse detalhe até que deixou o carro interessante, pois lembrava muito alguns carros de turismo europeus que tinham a capota e o pára-brisa retirados para reduzir a resistência aerodinâmica, em que uma chapa deixava  apenas

o piloto de fora. Feio mesmo era o enorme bocal do tanque de combustível, na frente do carro.

 

O desafio seria na manhã seguinte. A Marginal do Rio Pinheiros, em um trecho ainda não aberto ao tráfego, era o palco. Carros de todos os tipos, vindos de todos os lugares, participavam do Festival de Recordes, em um dia especialmente quente. Era 14 de novembro de 1970. Um a um, os carros iam largando e marcando seu tempo no trecho de 1 km. Estava chegando a vez daquele feio protótipo com motor de Fusca 1.600, inscrito na categoria Classe da A Divisão 4, para protótipos até 1.600 cc.

 

Quase na hora da largada, no entanto, o motor apagou. Corre daqui, corre dali, meu pai saiu do carro, tirou o capacete e me pediu para comprar dois picolés de limão, no carrinho da Kibon ali perto. Fiz o que ele mandou, mesmo sem entender, e lhe dei os sorvetes. Ele pegou um, desembrulhou - naquele tempo o picolé da Kibon era apenas embrulhado - e derreteu-o inteirinho na bomba de gasolina do Frankenstein. O motor voltou a funcionar. Recolocando o capacete, ele me falou:

– O outro é para você. Está muito calor!

 

Logo em seguida aquele Lorena dourado bateu o recorde da categoria, com 174,900 km/h, conquistando um belíssimo troféu em forma de volante.

 

Antes de ser desmontado, o feio carrinho ainda participou de outras provas, algumas delas longas, sendo que para isso houve a necessidade de melhorar a segurança do protótipo e instalar equipamentos de iluminação, como faróis e lanternas. As traseiras eram aquelas de carroceria de caminhão, mais feias impossível.

 

 

Hoje, 32 anos depois, lembro com muito carinho desse dia, apesar de que alguns detalhes eu já esqueci. Dos outros carros, principalmente. Graças ao meu amigo Julio Penteado, que depois de quase 20 anos que o conheço só agora soube que ele também estava por lá, pude ver algumas cenas que ele próprio retratou. Uma delas é a do Lorena.

Um fotógrafo profissional também estava lá: Jussi Lehto, que gentilmente me deu as duas únicas fotos que ele fez do carro e de meu pai. Mas são suficientes. Depois de tanto tempo lembrando desse dia, ver essas fotos, principalmente as do carro que eu ajudei a pintar, me emociona muito.

De concreto, guardo apenas o toféu, que por sinal está precisando de uma reforminha. Ah! O desengonçado tanque de gasolina, que depois participou de várias Mil Milhas, em vários fusquinhas "penicos", eu tinha até pouco tempo atrás, mas sumiu em uma mudança.

 


Lorenas de hoje : alguns sobreviventes...

 

Lorena de Mário Estivalét                                                            Lorena de Hilton de Brito

 

  

Lorena de Jeferson Tici                                                         Lorena de Aldir Passarinho

 

 

E tem ainda a história de um outro Lorena que o Claudio Ceregatti e o Lucca Furquim estão

guardando dentro de uma igreja em São Paulo... mas isso é uma outra história !!!!

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